Comentários

Quando escrevo algo e publico, sei que me coloco na condição de possível formador de opinião, porém, e quero que isso fique bem claro, tenho plena consciência de que minha opinião é apenas mais uma num universo de bilhões.
Assim, se você puder deixar um comentário sobre os textos que estão postados aqui, será muito interessante.
Se conversarmos sobre nossos dogmas, paradigmas e outras "verdades", poderemos juntos aumentar nosso alcance de visão e passaremos a enxergar um pouco além da ponta de nossos narizes, ou não.

sábado, 25 de dezembro de 2010

Amigo de Deus

             O que é a amizade? Segundo o Aurélio amizade é “Sentimento fiel de afeição, simpatia, estima ou ternura entre pessoas que geralmente não são ligadas por laços de família ou por atração sexual.”. No sítio Wikipédia, encontramos a seguinte definição para amizade: “é um relacionamento humano que envolve o conhecimento mútuo e a afeição, além de lealdade ao ponto do altruísmo.”. Existem muitas outras definições de amizade. O que podemos afirmar com certeza é que amizade é algo bom para os envolvidos nessa relação.
             Dentre os muitos textos da Bíblia que falam sobre relacionamento humano quero destacar um que se encontra no livro de Eclesiastes, capítulo 4, dos versículos 9 ao 12: “9  Melhor é serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho. 10  Porque se caírem, um levanta o companheiro; ai, porém, do que estiver só; pois, caindo, não haverá quem o levante. 11  Também, se dois dormirem juntos, eles se aquentarão; mas um só como se aquentará? 12  Se alguém quiser prevalecer contra um, os dois lhe resistirão; o cordão de três dobras não se rebenta com facilidade.”. Esse texto, como na verdade toda a Bíblia, é maravilhoso e fala sobre trabalho mútuo, auxílio, sobrevivência e empenho, coisas essas que quando sabemos que temos à disposição deixam-nos mais tranquilos.
                No final do texto o profeta fala sobre o cordão de três dobras, que é uma corda formada por três cordões entrelaçados a qual não se parte com facilidade. Apropriando-me dessa metáfora quero expressar o que para mim são as três dobras do cordão da amizade. Pode ser que para você elas sejam outras, mas penso que elas são a transparência, a lealdade e a gratidão.
                Transparência por que na minha maneira de ver a vida é impossível que exista amizade sem que ela esteja presente. Os amigos precisam ser intimamente conhecidos uns dos outros. Para que exista amizade as pessoas precisam saber com quem realmente estão lidando. Amigos não devem ser fingidos uns para com os outros, não devem precisar fingir ser quem não são. Amigos precisam ter liberdade de expressar sua verdadeira opinião sobre os mais diversos assuntos sem medo. Amigos devem ter liberdade de dizer uns aos outros do que gostam e do que não gostam. Claro que sabemos que a transparência tem seus limites e que existem coisas particulares que devem permanecer particulares, a transparência entre amigos respeita até essa liberdade.
                Se não temos liberdade para sermos nós mesmos na presença de uma pessoa, guardados alguns momentos, podemos ter na nossa frente um ótimo colega, mas não um amigo verdadeiro.
                Preste atenção na bíblia e perceba o quanto Deus é transparente. Ele deixa bem claro o que é que gosta e não gosta, o que quer e o que não quer, o que permite e o que não permite, o que fará e o que não fará. Através da bíblia Deus não se esconde, Ele se revela.
                E nós, o quanto temos sido transparentes para com nossos amigos e para com Deus?
                Agora vem a lealdade. Veja as características da lealdade: “Sincero, franco, honesto e fiel aos seus compromissos”. Agora responda, é possível existir amizade sem que exista lealdade? Em minha opinião a resposta é não. Sem lealdade não é possível existir amizade, não basta ser transparente é preciso ser leal.
                Amigos têm a obrigação de serem fiéis uns aos outros. Imagine só ser transparente a alguém que pretende usar isso contra você? Meu Deus, que perigo! Alguém que se aproveita da ausência do outro para falar mal, fazer fofocas, criar intrigas e outras coisas, não está sendo leal. Amigo leal não pula do barco e fica olhando o outro afundar sozinho, ou pula para buscar ajuda ou afunda junto.
                Na lealdade habita a confiança e a fidelidade. Os médicos, os padres, os pastores, os terapeutas devem ser leais ao que ouvem em suas salas, quanto mais um amigo ao que ouve ao pé do ouvido.
                Deus é leal a nós. Jesus disse que nunca nos abandonará e que todos aqueles que foram entregues em suas mãos não serão perdidos jamais. Deus promete que ainda que ofereçamos um pequeno copo d’água ao necessitado isso não passará despercebido e a devida recompensa é certa.
                E nós, o quanto temos sido leais para com nossos amigos e para com Deus?
                Por último a gratidão, que é o  reconhecimento por um benefício recebido. Nenhum de nós é onipotente, somente Deus tem essa qualidade, todos precisamos de ajuda.
                Penso que se ajudar é uma obrigação de todos, reconhecer a ajuda recebida também é uma obrigação.
O problema é que existem pessoas que acreditam que o mundo gira em torno delas e que todos têm a obrigação de socorrê-las e elas não tem a obrigação de ter gratidão. Existem outros que são ajudados o tempo todo e quando não recebem o auxilio uma vez agem como se nunca tivessem sido socorridos. Esses são os famosos ingratos.
Uma amizade deve ser recheada de gratidão. Devemos reconhecer os esforços daqueles que dedicam tempo e energia para nos ajudar.
A gratidão é um sentimento cheio de ternura e nobreza, ela é bonita, aconchegante e reconfortante.
Deus é grato a nós? Jesus disse que se dermos de beber, comer, vestir e onde descansar aos necessitados, Ele irá considerar que estamos fazendo isso como se fosse para Ele mesmo. Assim Deus reconhece o que fazemos, assim Ele demonstra gratidão.
E nós, o quanto temos sido gratos para com os que nos ajudam e para com Deus?
O seu cordão pode ter outras dobras, o que eu respeito, o meu tem essas, pois acredito piamente que para eu chamar você de amigo você precisa ser transparente, leal e grato comigo e que para você me chamar de amigo eu preciso ser transparente, leal e grato com você. E que para sermos amigos de Deus, em Cristo, precisamos ser transparentes, leais e gratos a Ele.
Deus nos abençoe.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Por que não se arrepender?

                Vivemos na era dos realities shows. Boa parte dos canais de TV tem algum programa desse tipo. Onde tem reality tem eliminação, pois só um pode sair vencedor. Onde tem eliminação existem justificativas pelo fato de ter sido posto para fora da disputa do prêmio. Onde existe justificativa tem a seguinte frase: “não me arrependo de nada que faço na minha vida”.
                É justamente sobre isso que quero pensar com vocês. Por que devemos não nos arrepender de coisas que fazemos na vida? Será por que não erramos ou nossos deslizes são muitos insignificantes?
                Quando falamos isso estamos tentando passar uma imagem de que somos pessoas fortes e determinadas. É como se disséssemos: “Sou forte, sou decidido e tudo que faço é tentando fazer o melhor”. Mas ter o desejo de fazer o melhor não significa fazer o melhor. Muitas vezes, mas muitas mesmo, tentando fazer o melhor, cometemos erros incríveis. E outras vezes erramos deliberadamente.
                Num momento desses ser forte não é recusa em arrepender-se. Pelo contrário, a força está justamente em reconhecer que o erro aconteceu e pedir perdão. Temos que ter coragem suficiente para dizer: “Eu me arrependo sim de algumas coisas que faço, pois são erros que ofendem alguém”, pois quase tão grave quanto ofender alguém é não admitir a ofensa.

domingo, 28 de novembro de 2010

Que vida boa

Domingo, mais ou menos 11h30min, minha esposa trabalhando, e eu filando uma bóia na casa de minha mãe. Com absolutamente sem nada para fazer - diz o sábio que cabeça vazia é canteiro de obras do tinhoso - eu e meu irmão nos prestamos a assistir aos “melhores” vídeos da semana. Sem demagogia não me lembro exatamente em que canal foi. Coisas incríveis, não no sentido de extraordinário, mas no sentido de inacreditável, apareceram ali, um comedor de cachorros-quentes, recordista mundial por sinal, que agora tenta bater o recorde de comedor de pizza; um prédio de quinze andares que foi “construído” em seis dias, na realidade montado, pois é pré-moldado;  um gato que enfrenta crocodilos;  Papai Noel bêbado;  torres de lego com mais de trinte metros de altura; um homem que tenta dar um chute num desafeto, erra o chute e cai de costas.
                Eu e meu irmão nos perguntávamos: 1º por que essas pessoas fazem isso?; 2º por que outras pessoas filmam isso?; 3º por que passam isso na televisão. Absurdo, hipocritamente falando, achamos tudo aquilo um absurdo. Falta do que fazer. A Irlanda pedindo ajuda ao FMI, a Grécia quebrada, o euro indo para o ralo e a TV exibindo aquilo. Faça-me o favor.
                O mais legal, pelo menos para nós dois, foi a explicação para as três perguntas acima. Tudo isso simplesmente acontece porque existem pessoas como eu e meu irmão que ficam plantados na frente da televisão assistindo a esses vídeos e que depois vão dar alguma resposta filosófica para esse comportamento quando na realidade e verdade é que estão fazendo isso porque gostam de ver a desgraça alheia (desgraça no sentido lúdico pelo amor de Deus).
                Mas o melhor mesmo é que isso mostra que a vida na realidade é boa. Claro que saber o que acontece no mundo é essencial, mas se formos viver segundo as anunciações dos profetas seculares do fim do mundo, vamos ficar trancados dentro de casa esperando a morte da bezerra, com medo de sair e ser morto. Por isso, às vezes, veja bem que falei às vezes, é legal parar na frente da TV e assistir a um monte de bobagens, dar risadas com o irmão mais novo, filar uma bóia na casa da mãe e depois dormir a tarde inteira como se a vida fosse só isso. Sabe por quê? Por que a vida é boa. Basta a cada dia o seu mal, não devemos ficar sofrendo dores de parto antecipadas, devemos viver a vida.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas

Passíveis de repreensão


      Paulo em um de seus escritos relata uma séria e intensa discussão que teve com Pedro. O apóstolo dos gentios justifica a briga com as seguintes palavras: “Quando, porém, Cefas veio a Antioquia, resisti-lhe face a face, porque se tornara repreensível.” (Gl 2,11). Com Paulo era assim tornou-se passível de repreensão, repreendido seria.
      Já em nossos dias vemos um horroroso desfile de pregadores “fichas sujas” que usando a Bíblia a seu favor tentam calar a boca dos fiéis com relação às seus golpes financeiros, suas mentiras teológicas, seus adultérios e suas corrupções.
      O argumento usado é “o pastor é o anjo da Igreja”, logo, quem falar mal da pessoa do pastor será repreendido pelo próprio Deus. Os fiéis com medo dessa ameaça tornam-se cúmplices dos pecados desses infelizes.
      Veja só, Moisés quando preciso, foi repreendido por Jetro, seu sogro (Ex 18,13-19); Davi foi repreendido por Natã (II Sm 12); Abraão foi repreendido pelo rei (Gn 20,1-13). Isso aconteceu porque tornaram-se passíveis de repreensão. Já os picaretas de última hora que passam os dias cuspindo arrogância, prepotência e heresia na cara do povo não aceitam ser chamada a atenção.
      A pergunta que faço é a seguinte: “Existe em nossos dias algum pastor tão consagrado a Deus como Pedro?”. A resposta é que sim, eles existem. Podemos contá-los nos dedos das mãos, mas que existem, existem.
      Outra pergunta: “Esses poucos pastores quando tornam-se passíveis de serem chamados à atenção aceitam a repreensão?”. A resposta é que com certeza aceitam, pois tem plena consciência de sua pequenez.
      Com isso, posso afirmar que esses charlatões arrogantes que afirmam que são irrepreensíveis, apesar de saberem que não o são, não passam de lobos escondidos em pele de cordeiro e como são especialistas em esconder-se, escondem-se também atrás da Bíblia, usando o texto para alcançar suas sórdidas finalidades.
      E quanto àqueles que com medo das ameaças desses pseudo-profetas chantagistas e que mesmo sabendo que não passam de mentirosos não denunciam suas safadices?
      Esses se tornam cúmplices desses pecados e tenham certeza de que quando os pseudo-profetas forem repreendidos por Deus, pois serão, seus comparsas também receberão sua parcela de responsabilidade.
      Imagine só: se Pedro, que foi Pedro, foi desmascarado quando foi irresponsável, quanto mais os adoradores de Mamom serão também.
      Não tenhamos medo de vãs filosofias botequeríanas dos ébrios ilusionistas do pseudo-evangelho. Façamos como João aconselha em sua segunda carta: “9 Todo aquele que ultrapassa a doutrina de Cristo e nela não permanece não tem Deus; o que permanece na doutrina, esse tem tanto o Pai como o Filho. 10 Se alguém vem ter convosco e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem lhe deis as boas-vindas. 11 Porquanto aquele que lhe dá boas-vindas faz-se cúmplice das suas obras más.” (II Jo 2,9-11). Não devemos recebê-los em casa nem pela TV, nem pelo rádio, nem pela internet.
      Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Quem é Cristo?

A negação de Pedro       /        Lucas 22.31-62


Introdução
            Podemos afirmar que temos total autoconhecimento ou que conhecemos as pessoas que estão à nossa volta de tal forma que nada nem ninguém pode nos surpreender? Ou será que podemos ficar admirados com nossas e demais atitudes? Claro que podemos ter um bom conhecimento, mas, com certeza, não temos o poder de antecipar todos os passos. De forma que tanto para a alegria como para a tristeza muitas surpresas acontecem.

Quem é Pedro? Quanto Pedro se conhecia? Pedro era um covarde?
             Não podemos dizer que Pedro fosse um homem covarde, pois, em nenhuma ocasião, o texto bíblico atribui a ele essa característica. Pelo contrário, o que podemos verificar nele é que era do tipo valente, pois chegou ao ponto de repreender Jesus, para que não falasse de forma que desanimasse os demais discípulos. Em atos 4.20, diante das ameaças do sinédrio, Pedro e João têm a seguinte fala: “Não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos”. No episódio da prisão de Jesus, João 18.10 diz que quem cortou a orelha do soldado foi Pedro. Assim podemos dizer que dentre as características de Pedro a covardia passava longe dele.
            Muitos hoje dizem: “Eu, no lugar de Pedro, não teria negado Jesus.” Teria feito o que então? O conhecimento que temos hoje, por meio das Escrituras, é um privilégio, e, mesmo assim existe muita confusão sobre a pessoa de Cristo. Assim, temos de ter cuidado antes de atribuir covardia a Pedro, pois a ele, o que podemos atribuir sim, e muitas vezes, é coragem e dureza no trato.
            Mas não dá para negar que Pedro negou a Cristo. Por que teria feito isso?
            Logo ele, que disse que, com Jesus estava pronto até para morrer.
            Na cabeça dele provavelmente passava a seguinte ideia: “Não, eu não fujo.” E veja o que aconteceu. Isso prova que o nosso conhecimento é limitado.

Quanto Cristo conhecia de Pedro
            Por outro lado, quanto Cristo conhecia de Pedro? Ele ia além do discípulo:
·         Sabia que Pedro ainda não era convertido (“quando te converteres”)
·         Sabia que Pedro seria um bom pastor (“fortalece teus irmãos”)
·         Sabia que, naquele momento, ele ainda não estava preparado (“quando”)
·         Sabia que Pedro não estava preparado para o que ia acontecer, tanto assim que ele iria negá-lo.
            Jesus tinha total conhecimento da pessoa de Pedro, pois Cristo vai muito além de nosso entendimento. Não podemos e não conseguimos esconder nada do Senhor.
            No caso de Pedro acredito que ele nem estava tentando esconder algo: o problema era que seu conhecimento acerca do Messias estava baseado no que ele via e ouvia da religião de sua época e essa aguardava um messias guerreiro, ainda que as Escrituras ensinassem que o Cristo não seria assim.
Nós também não fugimos desse tipo de comportamento, muito do nosso conhecimento sobre  o Pai, o Filho e o Espírito Santo é baseado no modismo de nossa época:
·         São teologias de prosperidade;
·         Ênfases em poucos dons;
·         Desvalorização do social;
·         Determinações e ordenanças;
·         Centralizamos em nossa vida o desejo humano ao invés de centralizarmos a vontade de Deus.



Expectativas de Cristo e de Pedro

O que esperava Cristo de Pedro quando disse “Fortalece teus irmãos”? Cristo esperava de Pedro justamente que ele fosse o que foi, que fosse um pilar para os crentes que viriam, que fosse um homem exemplo e conhecedor da sua missão.
Mas, naquele momento, Jesus sabia que Pedro ainda não estava preparado para a função de fortalecedor. Pois ainda não tinha entendido como as coisas deveriam acontecer. Sabendo disso, o Senhor afirma que, antes de amanhecer (galo cante), Pedro o negaria.

O que esperava Pedro de Cristo? Pedro estava muito ligado à questão da luta armada, e não somente ele, mas os outros discípulos também. No versículo 38 eles entendem as palavras de Jesus com um chamado à batalha e dizem ter ali duas espadas. Ou seja, queriam luta corporal, enquanto as palavras de Jesus queriam indicar um novo tempo para suas vidas, tempo de muita dificuldade e perseguição.
Assim, o que Pedro espera é um Messias político-guerreiro, que viria restabelecer o trono de Israel por meio de luta armada, expulsando os romanos de suas terras. E, para isso, ele já no inicio da conversa diz a Cristo que, com ele, iria tanto para a prisão como também para a morte. Mateus e Marcos indicam que os outros discípulos tinham a mesma intenção. Para isso estavam todos dispostos. Pois era  o que esperavam de Cristo.
Assim, podemos também perguntar a nós mesmos: O que eu realmente esperamos de Cristo? Qual é o nosso conhecimento sobre o Senhor? Temos realmente compreendido Sua missão e obra? Temos compreendido  também qual é a missão dos seguidores de Cristo?
Os discípulos só não estavam preparados para o que aconteceria naquela noite. Um Messias que se deixa levar preso, sem nenhuma reação; um Cristo que sabe de sua missão, e que não deve impedi-la.

Não conheço esse homem.
            Vendo Jesus se entregar, Mateus e Marcos dizem que todos fugiram. Lucas e Mateus, dizem que Pedro o seguiu de longe. Marcos diz que, além de Pedro, um outro rapaz, coberto só com um lençol, seguiu o Senhor, mas fugiu. João, diz que, além de Pedro um outro discípulo, o seguiu também.
            Com isso, podemos entender que certamente Pedro o seguia. Mas por que Pedro o seguiu? Talvez por não acreditar que as coisas terminariam daquela forma, e ainda esperar um sinal de Jesus, para que ele pudesse atacar, como já tinha feito com o soldado no momento da prisão.
            Só que nada disso acontece. E as pessoas começam a incomodá-lo, perguntando sobre seu relacionamento com Jesus. No versículo 57 ele diz: “Não o conheço”, acredito que estava em um estado mental tão alterado que nem se lembrou de que Jesus já tinha dito que era exatamente isso que ele faria.
Talvez Pedro tivesse ficado totalmente atormentado com todos aqueles acontecimentos, e estivesse se perguntando: “Onde está o homem que afronta os fariseus? Que quebra a lei do sábado? Que cura os enfermos? Que faz coisas que nenhuma outra pessoa conseguiu fazer?”.
            E talvez todas as vezes que tenha se perguntado porque aquilo estava acontecendo, tinha esperança de que a qualquer momento Jesus declare-se guerra. Mateus 26.74 atribui a Pedro uma resposta muito forte: “Não conheço este homem”. Realmente Pedro não o conhecia. Conhecia apenas o que sua vontade permitia que enxergasse. Conhecia apenas o Jesus que sua crença lhe permitia conhecer. Conhecia apenas o Messias da luta. Não conhecia o Cristo de Isaías 53, aquele que levou todas as nossas enfermidades sobre si e foi massacrado por isso.
Finalmente o galo canta e os olhares de Jesus e de Pedro se cruzam e o discípulo percebe que tudo aquilo era muito mais do que ele poderia suportar. Naquele momento só lhe restou, chorar.
Quanto nós conhecemos de Cristo, ou o quanto nossa crença e expectativas nos permitem conhecê-lo ou esperar dele?
Será que muitas vezes, quando nos encontramos desanimados com Deus, não é porque queremos que Deus seja da forma que gostaríamos que Ele fosse, e não o aceitamos do jeito que Ele realmente é?

Conclusão
            Cristo aceitou ser levado por homens que o viam todo dia, como se fosse um marginal procurado por crimes hediondos. Aceitou toda sorte de humilhações. Dormia, usando pedras como travesseiro. Foi tido como louco por seus parentes. Aceitou ser traído com um beijo, que é símbolo de amizade. Não condenou os discípulos próximos, que iriam deixá-lo e nem sequer iriam aos pés da cruz, com exceção de João. Por que isso? Por mim e por você, por todos nós.
Muitas pessoas infelizmente criam imagens que estão fora da realidade. Fazem isso por confusão ou por ensinamentos errados. Mas a verdade é que isso pode nos trazer grandes tristezas e decepções, pois as expectativas não serão alcançadas.
Cristo nos diz: “Conhecei de mim e sabei que meu jugo é leve.” Que realmente possamos compreender a maravilha de Cristo em nossas vidas do jeito que ele no-la ensinou e não do jeito que decidimos aprender. Que nosso limitado autoconhecimento nos leve à humildade necessária para reconhecer que precisamos aprender mais a cada dia com a orientação do Espírito Santo de Deus.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Mediando conflitos

         Estou em fase de preparação de um curso sobre mediação de conflitos. O assunto é vasto e rico. Por isso, não quero fazer aqui uma introdução sobre o tema, nem tão pouco destacar suas linhas de pensamento. Minha intenção é de ater-me a uma característica essencial - pelo menos é o que defendem muitos estudiosos do assunto -, a imparcialidade.
            Antes de explanar o que penso sobre o assunto, quero que você leitor reflita sobre o que pensa sobre a imparcialidade.
            Pergunto: você é imparcial? Se a resposta for não, todos olharão para você com cara de juiz e darão o veredito: “antiético, só busca os próprios interesses”. Se a resposta for sim, todos olharão para você com cara de pais orgulhosos que percebem que os filhos seguem um bom caminho. Seja qual for a resposta, é preciso que haja reflexão. Vamos a ela:
Resposta: “sou parcial”. Esse comportamento é comum a pessoas que acreditam que sabem opinar sobre quase todos os assuntos - 99% das pessoas, que aparecem na pauta do dia - e capitaneados por suas convicções, determinam quem está certo e quem está errado, escolhendo um lado para defender. Parafraseando um personagem da novela Roque Santeiro, se você tem menos de trinta anos não conhece, “To certo, ou to errado?”. Digo escolhem porque às vezes, ou muitas vezes, os errados são os seus aliados e é quase certo que nesse caso o jeitinho brasileiro de ser entrará em ação.
            Resposta: “sou imparcial”. Esse comportamento. Bem, esse comportamento. Hummm, esse comportamento. Você conhece alguém que seja naturalmente imparcial? Numa sociedade patriarcal? Patriarcalismo esse que a cada dia perde mais e mais espaço para o matriarcalismo. Terra habitada por um povo que se apaixona por tudo, sente amor, raiva, rancor, ciúmes, desejos, ódio, existe mesmo alguém que seja naturalmente imparcial? Duvido. Se existir são poucos e eu, por exemplo, ainda não tive a oportunidade de conhecê-los.
            Dizer que somos imparciais é similar a dizer que no Brasil não existe preconceito. Falo isso, pois da mesma maneira que pouco discutimos sobre nossos preconceitos, pouco discutimos sobre nossa parcialidade.
            Sinto muito dizer, na verdade, sinto nada, isso aos que juram “de pé juntos” que são imparciais, vocês não são. Aliás, nós somos, na realidade somos naturalmente parciais. Veja nossos ditados populares: “cada um por si e Deus por todos”, “cada um com os seus problemas”, “quem não chora, não mama”, “filho de peixe, peixinho é”, “pau que nasce torto, morre torto”.
            Aliás, voltando  falar sobre nossos preconceitos. Sabe por que somos preconceituosos? Porque somos parciais, pois alguém que acredita que as pessoas têm sua importância na sociedade conforme a cor da pele, sua classe social ou seu clero só pode ser parcial.
            A verdade é que seja para defender a natureza, economizar energia, defender o fraco e o oprimido ou afirmamos que nossos filhos são santos, somos parciais.
            Está na nossa natureza. Nós somos acostumados a lutar por melhores condições de vida, combater a criminalidade, enfrentar as dificuldades. Nós somos assim, patriarcais, matriarcais, passionais, competitivos. Portanto, parciais.
            Quando a situação exige que sejamos imparciais, temos que fazer um grande esforço. Temos que pensar o tempo todo “tenho que ser imparcial, tenho que ser imparcial”, caso contrário não conseguimos.
            Não há, pelo menos na maioria dos casos, alguém que seja só parcial ou somente imparcial.
            Por isso temos de nos policiar. Policiar é a palavra ideal, pois da a ideia de deixar fluir o que é correto e repreender o que é errado.
            Ser parcial ou imparcial, no meu ponto de vista, não é uma questão de certo ou errado. Existem momentos em que o certo é ser parcial e outros em que a melhor coisa a se fazer é ser imparcial.
            A medida para a escolha não deve ser o que nos agrada, mas sim o que é certo fazer. A ética deve ditar o que faremos no momento, se seremos parciais ou imparciais. É preciso que a ética seja o fiel da balança para que não corramos o risco de que nossa parcialidade ou imparcialidade sejam antiéticas.
            Todo aquele que é chamado a mediar um conflito deve a principio ser imparcial. Mas deve ter em mente que naturalmente não o é. Deve ir para a mediação dizendo “tenho que ser imparcial, tenho que ser imparcial”.
            Mediador que acha que tem solução para tudo, que um dos lados tem que sempre estar errado, que alguém sempre tem que vencer, não é bom mediador.
            Mediar é fazer com diz a palavra, fazer a média, ou seja, deve ficar o melhor possível para ambos os lados.
            Claro que como cada um dos lados deve ceder um pouco para ser possível tirar a média, provavelmente os dois acusarão o mediador de ter sido parcial. Mas não se preocupe pois, nesse caso, quando lados opostos fazem a mesma acusação e você foi ético, muito provavelmente é porque você foi imparcial.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Liderança

Não há como liderar quem não quer ser liderado

            Há poucos dias fui convidado para ministrar alguns cursos sobre os temas “Liderança”, “Como falar em público” e “Resolução de conflitos”. Como aceitei o convite, imediatamente comecei a separar o material de estudo.
            Na área de liderança existem muitos, mas muitos mesmo, livros sobre o assunto. São as mais diversas abordagens. Alguns falam sobre liderança servidora, minha preferida, outros sobre os tipos de liderança, como liderar, tipos de líderes, etc.
            A maioria esmagadora tenta, de uma forma ou de outra, ensinar ao leitor como ter sucesso na difícil arte de liderar. O que quase nenhum aborda profundamente, superficialmente sim, é o fato de que é impossível liderar pessoas que não queiram ser lideradas.
            Analisando o material que tenho, cheguei ao seguinte impasse, pelo menos para mim: “qual linha de pensamento adotar no curso”. É preciso ter um norte, um lugar para se chegar. Afinal de contas sou formador de opinião e não ter uma é muito contraditório. Ainda que não tenha a pretensão de fazer as pessoas pensarem da mesma maneira que eu.
            A linha que escolhi foi a mesma que adoto no comportamento, ensinado por Jesus, e competentemente divulgada por James C. Hunter em seus livros O monge e o Executivo e Como se tornar um Líder Servidor, obras as quais indico.
            Por que esse hiato? E as pessoas que não querem ser lideradas? Fugiu do assunto?
            Não fugi do assunto. O hiato é para dizer que obrigatoriamente temos que seguir certos caminhos na vida e isso vai depender do nosso conjunto de certezas e qualidades, ou melhor falando, personalidade e caráter.
            Como liderar envolve política! - pelo amor de Deus, no bom sentido da palavra. Você poderá encontrar, certamente encontrará, pessoas que não queiram ser lideradas, mais especificamente, não queiram ser lideradas por você.
            Aí é que entro em conflito com parte dos autores sobre o tema, pois tentam passar a impressão de que se adotarmos todas as suas lições, vamos liderar todas as pessoas, em todos os lugares e em todo o tempo. Isso não é verdade.
            Muitas vezes você encontrará, sem fazer juízo de valor, pessoas com personalidade e caráter completamente diferente do seu e elas podem decidir que não serão lideradas por você. Não importa se você acredita que é o melhor líder da face da Terra, para essas pessoas você não é.
            O melhor exemplo disso foi Jesus. Você pode até não considerar Jesus como o messias Salvador, adorado pelos cristãos, mas que ele foi um grande pacifista não se discute. Pois bem, buscando pregar a paz ele encontrou pela frente alguns grupos chamados de fariseus, saduceus e escribas que tomaram a seguinte decisão: matar Jesus.
            Não importa o que Jesus fizesse: curas, milagres, ressuscitar mortos, receber com amor e respeito todo tipo de gente. Esses homens estavam determinados a não aceitar sua liderança.
            Sejamos sinceros, algumas vezes isso vai acontecer. Não importa o que você faça, algumas pessoas vão escolher não ser lideradas por você e não serão.
            Não é questão de capacidade, competência, eficácia. A questão é que por motivos particulares e diversos, essa decisão será tomada e ponto final.
            Se você tem plena consciência de que fez e faz tudo o que está ao seu alcance para ser um bom líder, não deve se deixar abater demais. Passado o susto e a tristeza que devem ser breves, levante a cabeça.
            E qual decisão tomar? Cada um toma a sua decisão.
            O meu conselho é que, como você não é Jesus, por isso não tem vocação para Salvador, ou seja, não foi escolhido para morrer por todos, vá embora. Isso mesmo vá embora.
            Tenha consciência de que escolher o contrário é declarar guerra. Perde-se todo o foco, a missão e tudo de bom que o projeto tem. O que passa a valer é a sobrevivência e para sobreviver acabamos fazendo coisas drásticas, como por exemplo, negociar sonhos e ideais.
            Deixe o grupo substituir o líder e faça um favor a si mesmo, substitua o lugar e os liderados.
            Isso não tem nada a ver com sentimentos do tipo ódio ou amor, ser bom ou ser ruim, se outro vai fazer o que você não fez ou ser valente ou covarde. Tem a ver com escolhas. Jesus sabia que os fariseus, os saduceus e os escribas não queriam ser liderados por ele. Por isso não tentava liderá-los, algumas vezes até evitava a presença deles.
            Ele não fazia isso por fraqueza ou incompetência. Sabia que seria perda de tempo tentar liderar alguém que não queria ser liderado por ele.
            Por isso no seu projeto de vida você deve ter, como já disse antes, um norte, um lugar para chegar. Deve saber que tem um perfil e não todos os perfis. E perceber quando é hora de partir.

domingo, 29 de agosto de 2010

Sorocaba, 28 de agosto de 2010

À

Quem possa interessar

Nosso sistema de governo prevê eleição para pastores em nossas igrejas. Isso significa que os membros de uma determinada Igreja devem opinar se querem que o pastor permaneça na igreja ou se outro deve vir para o seu lugar. Seja isso bom ou ruim é o que nosso sistema determina e é assim que deve ocorrer.
Essa eleição é cercada de cuidados para que a democracia prevaleça. Entre outras coisas, o conselho da igreja pode indicar um candidato e os membros da igreja também podem, quando alcançam determinado número de assinaturas, indicar outro candidato se acreditar que seja necessário. Tudo tem prazo e regras para acontecer.
Obedecendo todas as regras previstas, no dia 15 de agosto do ano corrente a 11ª Igreja
Presbiteriana Independente de Sorocaba realizou sua eleição. O conselho já havia apresentado o seu candidato, o Reverendo Agnaldo Marcelo Silva Cianelli, atual pastor da igreja e o mesmo que escreve estas linhas. Os membros da igreja não apresentaram outro candidato. O que daria a entender que o candidato do conselho agradaria os anseios do povo.
Os números da eleição foram os seguintes: dos 27 membros presentes, 17 votaram pela permanência do pastor, um membro anulou o voto, dois membros votaram pela saída do pastor e sete membros entregaram suas cédulas em branco. Era necessário um número de 18 votos para que o candidato do conselho fosse reeleito.
Pairou uma duvida no ar. Os votos em branco devem ser contados para a maioria? Ou seja, dever-se- ia contar 24 votos em favor da permanência do pastor Marcelo?
Respondo: teoricamente, sim, mas em minha opinião, moralmente não. Uma semana antes da eleição, numa pastoral no final do culto de adoração, aconselhei os membros da igreja para que participassem da eleição e dessem sua opinião.
Dois votos contrários à minha permanência não surpreenderam, pois esperava ao menos quatro. O que me espantou foram os sete votos em branco, pois deu mostra que 25% das pessoas presentes não quiseram opinar. Como eu havia aconselhado que todos dessem sua opinião entendi os votos brancos como sendo a seguinte mensagem: “não pastor, nós não aceitamos seus conselhos”.
Se os votos em branco foram uma tentativa de manter o anonimato não colocando suas letras no papel - o que eu não acredito que tenha sido - não lograram êxito pois, por conhecer bem a comunidade, sei quem votou em branco.
Fiquei triste com essas sete pessoas. Gostaria que tivessem pegado suas canetas e escrito, “não” ou “não queremos que o pastor Marcelo permaneça nesta comunidade”. Isso sim seria legitimo, pois no fim das contas, foi isso que os votos brancos disseram para mim, escrevendo ou não as pessoas me disseram isso. E não haveria problema algum em votar pela a saída do pastor, pois cada um tem direito de expor sua opinião sem ser perseguido por ela. Tanto que não fui perguntar a ninguém o porquê de seu voto. Uma pessoa veio me informar qual fora seu voto e o de sua esposa, no último domingo, após o culto, porque quis e não porque eu perguntei.
Não pensem que tenho raiva ou mágoa das pessoas que desejam que eu vá embora dessa comunidade. É direito delas quererem isso. E peço aos que me amam que adotem a mesma postura.
Varias configurações poderiam ter sido colocadas em prática para que esse resultado fosse diferente. Eu poderia ter solicitado ao meu irmão, que já há alguns meses não freqüenta essa igreja, mas ainda é membro dela, que viesse votar; eu poderia ter solicitado à minha esposa que viesse votar; eu poderia ter solicitado a membros da igreja que amam a mim e a minha esposa para que viessem votar. Mas para mim, isso seria tão ilegítimo quanto aceitar ser reeleito contando votos brancos a meu favor.
O resultado final é que não fui reeleito e pronto. A partir de 1º de janeiro outro servo ou serva de Deus virá abençoar a vida dos irmãos. Temos plena consciência de que servimos a Deus e que Ele chamou a mim a minha esposa para esse ministério e o resultado da eleição não abala em nada nossa certeza. Mas, nosso tempo aqui está findando e da mesma forma que alguém virá abençoar essa igreja nós vamos abençoar outro povo.
Poderia escrever muito mais coisas, mas o objetivo dessa carta é apenas o de prestar um esclarecimento sobre os últimos acontecimentos. O que está expresso aqui é minha opinião particular e que me reservo o direito de dizê-la. Qualquer pessoa pode pensar de maneira diferente e, minha carta, não é um ataque a essas pessoas.
Da mesma forma que vocês, tenho direito de pensar e agir como quero. E ‘pensar diferente’ não precisa fazer com que sejamos inimigos.
É assim que eu penso. É assim que eu me comporto. Por isso essa carta não é para falar de ninguém além de mim. Tenho plena consciência de que “... o Filho do Homem há de vir na glória de seu Pai, com os seus anjos, e, então, retribuirá a cada um conforme as suas obras” (Mt 16,27). Cada um é responsável pelo que faz e não pelo que outras pessoas fazem. Eu sou responsável pelo que penso e faço e você é responsável pelo que pensa e faz.
Isso é o que tenho a dizer. Não falo mais sobre o assunto. Não ligo para pastor algum para falar bem ou mal da igreja. Não passo informação a nenhum pastor sobre os membros da igreja. Não participo do processo de escolha do no novo pastor.
Eu e a Alithéia, graças a Deus, formamos algumas lindas amizades nessa igreja. Elas permanecerão. Continuaremos a frequentar suas casas e vocês continuarão a fequentar a nossa.
Que o SENHOR vos abençoe e vos guarde; que o SENHOR faça resplandecer o seu rosto sobre vós e tenha misericórdia de vós; que o SENHOR sobre vós levante o rosto e lhes dê a paz.



Pastor Marcelo Cianelli

sábado, 27 de março de 2010

Receba o perdão de Deus

            Em II Samuel 11 lemos como o rei Davi cometeu adultério com uma mulher chamada Bate-Seba e como o desfecho dessa história foi muito triste, resultando na morte do marido traído, a mando de Davi. O texto bíblico termina naquele capítulo com a seguinte frase “Porém isto que Davi fizera foi mal aos olhos do Senhor”. Deus ficou decepcionado com o comportamento daquele a quem Ele amava.
            Num primeiro momento, por motivos que não vamos analisar aqui, Davi não viu seu comportamento como algo pecaminoso. O rei continuou levando sua vida normalmente como se nada de mais tivesse acontecido, mesmo sabendo que algo aconteceu. E não somente Davi sabia disso, mas todas as pessoas que viviam à sua volta também sabiam. Mas, aos olhos do rei, não fora nada demais.
            Passado algum tempo, e não havendo nenhum movimento em direção ao arrependimento, Deus enviou o profeta Natã para ter uma conversa com o rei (II Samuel 12). Conversa essa que deveria denunciar o pecado cometido. A cena foi dramática, intensa e profunda tanto por parte do profeta como da parte de Davi. Aquele encontro culminou com o arrependimento do rei e posterior anuncio por parte do profeta de que Deus havia perdoado Davi.
            Bem, esse foi o acontecimento, que em poucas palavras mostra a dinâmica da realização de um pecado, o desmacaramento da hipocrisia, do arrependimento e da liberação de perdão por parte de Deus.
            Mas, veja só que coisa interessante, pelo menos aos meus olhos. Deus envia o profeta para que na presença do rei denuncie o seu pecado, o que faz com que imediatamente aconteça o arrependimento seguido de perdão. Temos consciência de que o comportamento de Davi foi extremamente reprovável, até porque Deus enviou Natã justamente para declarar isso. O detalhe interessante é que após Deus ter perdoado o pecado do rei nunca mais voltou a tocar nesse assunto. Após ter liberado perdão ao arrependido o Senhor deu o assunto por encerrado. Não encontraremos nas escrituras nenhum outro texto em que Deus requer novamente de Davi um pedido de perdão relacionado a esse acontecimento.
            Quando Deus perdoa, esse perdão liberado é definitivo. Deus não guarda rancor ou mágoas e também não se arrepende de ter perdoado. Quando existe sincero arrependimento, existe sincero perdão. Deus não faz mais menção do pecado cometido. O profeta Miquéias diz que Deus terá compaixão de nós e lançara nossos pecados no fundo do mar.
Deus lança mão de uma dinâmica que anda na contramão da nossa. Enquanto nos esquecemos de nossos pecados Deus os tem em mente, quando nos lembramos de nossos pecados e nos arrependemos e, muitas vezes não conseguimos nos perdoar, Deus os lança no mar e nunca mais toca no assunto. Se você quiser falar do assunto pode falar, Deus não fala mais.
            Essa dinâmica de Deus muitas vezes é estranha para nós. Quando somos ofendidos temos grande dificuldade em perdoar. Quando perdoarmos temos grande dificuldade em deixar o assunto para trás. Não digo esquecer, porque tudo o que acontece conosco fica registrado em nossa memória, mas digo deixar o assunto para trás mesmo, coisa do passado. Muitas vezes aguardamos somente uma oportunidade, não precisa nem ser “boa”, somente oportunidade mesmo, para trazer o assunto à pauta do dia. afirmamos que perdoamos, mas fazemos questão de lembrar ao ofensor o seu erro. Fazemos isso de várias maneiras, jogando na cara com agressividade, fazendo piadas, contando o ocorrido para muitas pessoas e de tantas outras formas que criativamente inventamos. fazemos questão de que nas crônicas de nossa existência constem as ofensas que recebemos, bem como o nome com letras maiúsculas dos ofensores.
            Deus não faz assim. O Senhor não tem nenhum interesse em nos entristecer com assuntos que já foram resolvidos. Deus quer que caminhemos para frente deixando para trás as coisas que lá ficaram. Deus mandou o profeta falar com Davi porque o pecado do rei estava fazendo separação entre ele e o Senhor. O objetivo era restaurar a comunhão, liberar novamente o livre acesso. Uma vez feito isso caminharam para frente.
            Por isso quando nos arrependemos de ter pecado, seja qual for a ofensa, precisamos nos arrepender uma única vez e pedir perdão uma única vez. Se ficarmos pedindo perdão a Deus várias vezes por um mesmo erro, isso é prova de que NÓS não nos perdoamos, pois da parte Divina a liberação de purificação de toda a injustiça foi concedida no primeiro pedido.
Assim, se você não consegue se perdoar por algo que Deus já o perdoou, ore para que você consiga ter misericórdia de si mesmo. Se alguém não consegue lhe perdoar por algo de errado que você fez, peça a Deus que quebrante aquele coração e tenha paciência. Se você não consegue perdoar alguém por algo de errado que ele lhe fez, peça a Deus que quebrante o seu coração e seja humilde e pacífico. Se alguém afirma que você não foi perdoado por Deus em algo que realmente existiu arrependimento, não lhe dê ouvidos, pois a relação entre o pecador e Deus se dá entre o pecador e Deus e o único mediador dessa relação é Cristo. Outra coisa, quem lança duvidas é o diabo e não o Senhor, por isso, ore por aquele que faz isso, para que não realize mais uma tarefa que já é habilmente realizada pelo inimigo de nossas vidas.
            Você pecou? Arrependeu-se? Saiba que nosso advogado junto a Deus é Jesus Cristo. Por isso, em nome de Jesus, peça perdão a Deus, receba o perdão e viva como liberto. Vida leve, livre dos pesados fardos que o pecado coloca sobre nós.
            Deus quer que você tenha vida em abundância. Não é, nunca foi e nunca será desejo do Senhor que vivamos eternamente no corredor da morte aguardando o triste dia da execução.

Deus os abençoe.
Pr. Marcelo Cianelli

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Gratos e ingratos

Há quase quinze anos caminho com o Senhor Jesus. Claro que existem milhões de pessoas que caminham com o Senhor a muito mais tempo do que eu. Porém, esse tempo é suficiente para afirmar algo que experimento no convívio com o povo de Deus. Dentro da Igreja conheci as pessoas mais maravilhosas da minha vida. Pessoas amorosas, bondosas, humildes, dedicadas, interessadas e gratas. Sim dentro da Igreja é que conheci as pessoas mais gratas que cruzaram o meu caminho até aqui. Por outro lado, dentro da Igreja também conheci as pessoas mais ingratas da minha vida. Pessoas rancorosas, maldosas, arrogantes, interesseiras e ingratas.

Quando falo que nesse meio conheci pessoas maravilhosas, acredito que isso é completamente natural, pois, o mínimo que se espera de alguém que se diga discípulo de Jesus é que esse dedique o máximo de seu esforço em se parecer com o seu Senhor. Por isso acredito que é redundante ter de dizer que um cristão é uma pessoa sensacional, pois Cristo é sensacional.

Por outro lado, quando tenho de falar do contrário, o faço com dor no coração, pois é muito triste, mas muito triste mesmo ter que reconhecer isso. Mas, não podemos fechar nossos olhos para algo que fica estampado no comportamento das pessoas.

Como sou pastor, vivo com pessoas o tempo todo e vejo esses dois tipos de comportamento, gratidão e ingratidão, diariamente.

O convívio com os gratos é delicioso, pois é muito agradável ficar na presença dessas pessoas. Alias, não só agradável, é prazeroso conviver com essas pessoas. Uma característica muito marcante de pessoas assim, é que são muito humildes. São pessoas que entendem que precisam do auxilio de outras pessoas, pois são limitadas, e por isso, reconhecem e agradecem à ajuda prestada. Outras características importantes dessas pessoas é que também estão prestes a ajudar, a compreender, a falar bem, a querer bem. Pessoas assim, não saem por ai contando mentiras, fazendo fofocas e falando mal dos outros de casa em casa, de rodinha de escarnecedores em rodinha de escarnecedores.

Já, o convívio com os ingratos é extremamente desagradável. Aliás, não só desagradável, é desprazeroso conviver com essas pessoas. Uma característica notória em nessas pessoas, é que são extremamente arrogantes. São pessoas que sugam a ajuda alheia, como se o prestador do auxilio fosse seu escravo (É claro que não usam a palavra escravo, mas se comportam como senhores feudais), não reconhecem a ajuda prestada e o agradecimento, isso quando raramente acontece, é hipócrita. Outras características dessas pessoas é que dificilmente ajudam alguém, e quando o fazem, acreditam que aquele que recebeu a ajuda lhe deve esse favor para sempre (coisa da máfia). São pessoas que vêem a situação apenas por um lado, o delas. Falam mal dos outros sem a menor cerimônia, em qualquer hora e em qualquer lugar. São pessoas que quando vêem o outro com problemas, ficam alegres, sim, a felicidade dessas pessoas, é ver o mal do outro. Pessoas assim, saem por ai contando mentiras, fazendo fofocas e falando mal dos outros de casa em casa, de rodinha de escarnecedores em rodinha de escarnecedores.

A Bíblia nos ensinam no salmo primeiro que devemos escolher bem, com que tipo de gente andamos e indica que devemos correr dos que pecam por prazer, dos que praticam impiedade e dos que usam a boca para amaldiçoar. Você conhece gente ingrata? Preste a atenção nelas, pois elas encaixam como uma luva no primeiro versículo do salmo primeiro. Continue lendo o salmo e aprenda a não ter essas pessoas em seu grupo de intimidade, pois elas com certeza estragam o ambiente.

Aos pastores digo que por força do chamado temos que conviver com pessoas ingratas e também devemos amá-las, orando para que Deus as transforme. Devemos também ter em mente que por mais que elas queiram o mal do outro, principalmente dos pastores, quando esses não fazem suas vontades, Deus retribui a cada um conforme o seu comportamento. Simplesmente abençoem, e o Senhor da Igreja nos abençoara.

Por fim, para não dizer que escrevi um texto para ficar defendo a categoria, não podemos nos esquecer que existem muitos pastores ingratos espalhados pelo mundo afora.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Frases que dizemos

Introdução
         Como evangélicos estamos muitos acostumados a falar o “idioma” evangeliquês (uso de palavras comuns dentre os crentes). Brincadeiras à parte é claro que sabemos que isso é uma questão cultural, pois todo grupo desenvolve suas particularidades, tais como, gestos, jeito de falar, expressões faciais, etc. Dentre as expressões que usamos, existem algumas que de tão usadas extrapolam o circulo religioso e são usadas em larga escala por todo o povo brasileiro.
          Mas, antes de vermos algumas delas, quero deixar algo claro. Retire do rol de suas crenças, a de que, as palavras simplesmente têm poderes mágicos. Palavras têm força de influência. Você pede a Deus, e Ele por graça e misericórdia atende. Você pede ao seu próximo e ele por graça, misericórdia, interesse ou desinteresse atende. Mas esqueça do poder “mágico” das palavras, pois elas puras e simples, ditas por superstição não tem poder algum.
          Nossas palavras devem ser acompanhadas de um comportamento que coincidam com elas, caso contrário, não passam de hipocrisia.
          Agora sim, vamos a elas:

1ª parte: Em nome de Jesus
17 Tudo o que fizerem, seja em palavra ou em ação, façam-no em nome do Senhor Jesus, dando por meio dele graças a Deus Pai. (Col 3,17)

• Quando queremos dar força às nossas palavras, costumamos usar a frase: “Em nome de Jesus”. Isso claramente da ares de autoridade ao que queremos afirmar. Exemplos:

Você assume esse compromisso? “Sim, em nome de Jesus”;
Você está falando a verdade? “Sim, em nome de Jesus”;
Será que isso vai dar certo? “Claro, em nome de Jesus”.

• Nossas ações e nossas palavras são resultado de nossos pensamentos, ou seja, o que eu penso, falo ou faço mostram em nome de quem eu estou falando, do meu ou do meu Senhor;

• Em nome de Jesus, significa que:
1. O senhor está ciente;
2. O Senhor nos autoriza;
3. O Senhor concorda;
4. O Senhor não será envergonhado.

2ª parte: Se Deus quiser
13 Ouçam agora, vocês que dizem: “Hoje ou amanhã iremos para esta ou aquela cidade, passaremos um ano ali, faremos negócios e ganharemos dinheiro”. 14 Vocês nem sabem o que lhes acontecerá amanhã! Que é a sua vida? Vocês são como a neblina que aparece por um pouco de tempo e depois se dissipa. 15 Ao invés disso, deveriam dizer: “Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo”. (Tg 4,13-16)

• Quando queremos muito que algo aconteça, costumamos usar a frase: “Se Deus quiser”.
• O problema é que muitos quando usam essa frase, não estão realmente preocupados com o que Deus quer, mas sim, com o que eles querem, e usam essa frase como quem obriga Deus a realizar algo. Muitos costumam até mesmo a estender a frase: “Se Deus quiser, e ele há de querer”.
• Veja o que Tiago diz: “14 Vocês nem sabem o que lhes acontecerá amanhã! Que é a sua vida? Vocês são como a neblina que aparece por um pouco de tempo e depois se dissipa”, ou seja, não sabemos de nada, e quem não sabe de nada, não tem condições de saber ou realizar o que é perfeito.
• Temos de estar realmente preocupados em saber qual é a vontade de Deus e aceita-la.

• Se Deus quiser, significa que:
1. Deus está no controle de tudo;
2. Aceitamos submissos a vontade do Senhor.

3ª parte: Graças a Deus
18 Dêem graças em todas as circunstâncias, pois esta é a vontade de Deus para vocês em Cristo Jesus. (I Ts 5,18)

• Quando algo acontece da maneira que esperamos, usamos a frase: “Graças a Deus". Quando algo acontece de maneira diferente à esperada, ficamos indignados. E muitos infelizmente usam uma das expressões mais cruéis que eu conheço: “Deus me abandonou”.
• Paulo no ensina que devemos render “graças em todas as circunstâncias”, não apenas naquelas que achamos boas. Veja um ótimo exemplo:

13 E sucedeu um dia, em que seus filhos e suas filhas comiam, e bebiam vinho, na casa de seu irmão primogênito, 14 Que veio um mensageiro a Jó, e lhe disse: Os bois lavravam, e as jumentas pastavam junto a eles; 15 E deram sobre eles os sabeus, e os tomaram, e aos servos feriram ao fio da espada; e só eu escapei para trazer-te a nova. 16 Estando este ainda falando, veio outro e disse: Fogo de Deus caiu do céu, e queimou as ovelhas e os servos, e os consumiu, e só eu escapei para trazer-te a nova. 17 Estando ainda este falando, veio outro, e disse: Ordenando os caldeus três tropas, deram sobre os camelos, e os tomaram, e aos servos feriram ao fio da espada; e só eu escapei para trazer-te a nova. 18 Estando ainda este falando, veio outro, e disse: Estando teus filhos e tuas filhas comendo e bebendo vinho, em casa de seu irmão primogênito, 19 Eis que um grande vento sobreveio dalém do deserto, e deu nos quatro cantos da casa, que caiu sobre os jovens, e morreram; e só eu escapei para trazer-te a nova. 20 Então Jó se levantou, e rasgou o seu manto, e rapou a sua cabeça, e se lançou em terra, e adorou. 21 E disse: Nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá; o SENHOR o deu, e o SENHOR o tomou: bendito seja o nome do SENHOR. 22 Em tudo isto Jó não pecou, nem atribuiu a Deus falta alguma. (Jó 1,13-22)

• Jó sabia o que significa dar graças a Deus. Dificilmente encontraremos exemplo melhor que esse do que é dizer “graças a Deus”. E quando o texto nos diz que Jó não pecou, significa que ele não deu essa declaração por hipocrisia e sim com sinceridade.

• Graças a Deus, significa que:
1. Somos gratos a Deus pela vida;
2. Somos gratos a Deus pelas lutas;
3. Somos gratos a Deus pelas vitórias;
4. Somos gratos a Deus por TUDO.

Conclusão
          Como vimos no começo, se usarmos essas palavras acreditando que elas de maneira “mágica” farão nossa vida progredir, nada de bom acontecerá.
          Por outro lado, ser usarmos essas palavras com fé, esperança, submissão e ação. Vamos entender e experimentar o poder do nome de Jesus (Jo 16,24), a perfeição da vontade de Deus (Rm 12,2) e a suficiência da graças de Deus (II Co 12,7-10) e seremos salvos.

Você pode usar os textos que se encontram nesse blog apenas observe o seguinte termo de Uso:

Ao disponibilizar gratuitamente no blog estes textos, tenho por objetivo auxiliar o povo de Deus na proclamação da Palavra.

Todas as informações e recursos aqui contidos podem ser usadas livremente por indivíduos, famílias, igrejas evangélicas e grupos de estudo bíblico, desde que rigorosamente observadas as seguintes condições aqui expressas:

1. É expressamente proibido tirar qualquer proveito financeiro ou de direito autoral a partir das informações e recursos aqui obtidos.

2. É expressamente proibido publicar por quaisquer meios quaisquer informações ou recursos aqui obtidos, na sua totalidade ou em partes, sem autorização contratual prévia por parte do pastor Marcelo Cianelli.

3. É necessário obter autorização do pastor Marcelo Cianelli para utilização das suas informações ou recursos em outros sites ou retransmissores de qualquer natureza, assim como criação de indexadores e referências a partir de outros sites.

4. O pastor Marcelo Cianelli não se responsabiliza por quaisquer danos ocorridos em decorrência do acesso ao site ou utilização dos serviços aqui disponibilizados.

5. A utilização dos textos e quaisquer outras informações ou recursos aqui disponibilizados é de inteira responsabilidade do usuário, cabendo a este ser diligente quanto à proteção das informações contidas em seus equipamentos através do uso de ferramentas anti-vírus, anti-invasores, firewall e outros recursos tecnológicos existentes com objetivo de prevenir, identificar e tratar os riscos à segurança potencialmente presentes durante a navegação na internet e download de informações pela rede.

6. Ao pastor Marcelo Cianelli é reservado o direito de alterar o conteúdo desse blog sem aviso prévio.