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Se conversarmos sobre nossos dogmas, paradigmas e outras "verdades", poderemos juntos aumentar nosso alcance de visão e passaremos a enxergar um pouco além da ponta de nossos narizes, ou não.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Mediando conflitos

         Estou em fase de preparação de um curso sobre mediação de conflitos. O assunto é vasto e rico. Por isso, não quero fazer aqui uma introdução sobre o tema, nem tão pouco destacar suas linhas de pensamento. Minha intenção é de ater-me a uma característica essencial - pelo menos é o que defendem muitos estudiosos do assunto -, a imparcialidade.
            Antes de explanar o que penso sobre o assunto, quero que você leitor reflita sobre o que pensa sobre a imparcialidade.
            Pergunto: você é imparcial? Se a resposta for não, todos olharão para você com cara de juiz e darão o veredito: “antiético, só busca os próprios interesses”. Se a resposta for sim, todos olharão para você com cara de pais orgulhosos que percebem que os filhos seguem um bom caminho. Seja qual for a resposta, é preciso que haja reflexão. Vamos a ela:
Resposta: “sou parcial”. Esse comportamento é comum a pessoas que acreditam que sabem opinar sobre quase todos os assuntos - 99% das pessoas, que aparecem na pauta do dia - e capitaneados por suas convicções, determinam quem está certo e quem está errado, escolhendo um lado para defender. Parafraseando um personagem da novela Roque Santeiro, se você tem menos de trinta anos não conhece, “To certo, ou to errado?”. Digo escolhem porque às vezes, ou muitas vezes, os errados são os seus aliados e é quase certo que nesse caso o jeitinho brasileiro de ser entrará em ação.
            Resposta: “sou imparcial”. Esse comportamento. Bem, esse comportamento. Hummm, esse comportamento. Você conhece alguém que seja naturalmente imparcial? Numa sociedade patriarcal? Patriarcalismo esse que a cada dia perde mais e mais espaço para o matriarcalismo. Terra habitada por um povo que se apaixona por tudo, sente amor, raiva, rancor, ciúmes, desejos, ódio, existe mesmo alguém que seja naturalmente imparcial? Duvido. Se existir são poucos e eu, por exemplo, ainda não tive a oportunidade de conhecê-los.
            Dizer que somos imparciais é similar a dizer que no Brasil não existe preconceito. Falo isso, pois da mesma maneira que pouco discutimos sobre nossos preconceitos, pouco discutimos sobre nossa parcialidade.
            Sinto muito dizer, na verdade, sinto nada, isso aos que juram “de pé juntos” que são imparciais, vocês não são. Aliás, nós somos, na realidade somos naturalmente parciais. Veja nossos ditados populares: “cada um por si e Deus por todos”, “cada um com os seus problemas”, “quem não chora, não mama”, “filho de peixe, peixinho é”, “pau que nasce torto, morre torto”.
            Aliás, voltando  falar sobre nossos preconceitos. Sabe por que somos preconceituosos? Porque somos parciais, pois alguém que acredita que as pessoas têm sua importância na sociedade conforme a cor da pele, sua classe social ou seu clero só pode ser parcial.
            A verdade é que seja para defender a natureza, economizar energia, defender o fraco e o oprimido ou afirmamos que nossos filhos são santos, somos parciais.
            Está na nossa natureza. Nós somos acostumados a lutar por melhores condições de vida, combater a criminalidade, enfrentar as dificuldades. Nós somos assim, patriarcais, matriarcais, passionais, competitivos. Portanto, parciais.
            Quando a situação exige que sejamos imparciais, temos que fazer um grande esforço. Temos que pensar o tempo todo “tenho que ser imparcial, tenho que ser imparcial”, caso contrário não conseguimos.
            Não há, pelo menos na maioria dos casos, alguém que seja só parcial ou somente imparcial.
            Por isso temos de nos policiar. Policiar é a palavra ideal, pois da a ideia de deixar fluir o que é correto e repreender o que é errado.
            Ser parcial ou imparcial, no meu ponto de vista, não é uma questão de certo ou errado. Existem momentos em que o certo é ser parcial e outros em que a melhor coisa a se fazer é ser imparcial.
            A medida para a escolha não deve ser o que nos agrada, mas sim o que é certo fazer. A ética deve ditar o que faremos no momento, se seremos parciais ou imparciais. É preciso que a ética seja o fiel da balança para que não corramos o risco de que nossa parcialidade ou imparcialidade sejam antiéticas.
            Todo aquele que é chamado a mediar um conflito deve a principio ser imparcial. Mas deve ter em mente que naturalmente não o é. Deve ir para a mediação dizendo “tenho que ser imparcial, tenho que ser imparcial”.
            Mediador que acha que tem solução para tudo, que um dos lados tem que sempre estar errado, que alguém sempre tem que vencer, não é bom mediador.
            Mediar é fazer com diz a palavra, fazer a média, ou seja, deve ficar o melhor possível para ambos os lados.
            Claro que como cada um dos lados deve ceder um pouco para ser possível tirar a média, provavelmente os dois acusarão o mediador de ter sido parcial. Mas não se preocupe pois, nesse caso, quando lados opostos fazem a mesma acusação e você foi ético, muito provavelmente é porque você foi imparcial.

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