Sorocaba, 28 de agosto de 2010
À
Quem possa interessar
Nosso sistema de governo prevê eleição para pastores em nossas igrejas. Isso significa que os membros de uma determinada Igreja devem opinar se querem que o pastor permaneça na igreja ou se outro deve vir para o seu lugar. Seja isso bom ou ruim é o que nosso sistema determina e é assim que deve ocorrer.
Essa eleição é cercada de cuidados para que a democracia prevaleça. Entre outras coisas, o conselho da igreja pode indicar um candidato e os membros da igreja também podem, quando alcançam determinado número de assinaturas, indicar outro candidato se acreditar que seja necessário. Tudo tem prazo e regras para acontecer.
Obedecendo todas as regras previstas, no dia 15 de agosto do ano corrente a 11ª Igreja
Presbiteriana Independente de Sorocaba realizou sua eleição. O conselho já havia apresentado o seu candidato, o Reverendo Agnaldo Marcelo Silva Cianelli, atual pastor da igreja e o mesmo que escreve estas linhas. Os membros da igreja não apresentaram outro candidato. O que daria a entender que o candidato do conselho agradaria os anseios do povo.
Os números da eleição foram os seguintes: dos 27 membros presentes, 17 votaram pela permanência do pastor, um membro anulou o voto, dois membros votaram pela saída do pastor e sete membros entregaram suas cédulas em branco. Era necessário um número de 18 votos para que o candidato do conselho fosse reeleito.
Pairou uma duvida no ar. Os votos em branco devem ser contados para a maioria? Ou seja, dever-se- ia contar 24 votos em favor da permanência do pastor Marcelo?
Respondo: teoricamente, sim, mas em minha opinião, moralmente não. Uma semana antes da eleição, numa pastoral no final do culto de adoração, aconselhei os membros da igreja para que participassem da eleição e dessem sua opinião.
Dois votos contrários à minha permanência não surpreenderam, pois esperava ao menos quatro. O que me espantou foram os sete votos em branco, pois deu mostra que 25% das pessoas presentes não quiseram opinar. Como eu havia aconselhado que todos dessem sua opinião entendi os votos brancos como sendo a seguinte mensagem: “não pastor, nós não aceitamos seus conselhos”.
Se os votos em branco foram uma tentativa de manter o anonimato não colocando suas letras no papel - o que eu não acredito que tenha sido - não lograram êxito pois, por conhecer bem a comunidade, sei quem votou em branco.
Fiquei triste com essas sete pessoas. Gostaria que tivessem pegado suas canetas e escrito, “não” ou “não queremos que o pastor Marcelo permaneça nesta comunidade”. Isso sim seria legitimo, pois no fim das contas, foi isso que os votos brancos disseram para mim, escrevendo ou não as pessoas me disseram isso. E não haveria problema algum em votar pela a saída do pastor, pois cada um tem direito de expor sua opinião sem ser perseguido por ela. Tanto que não fui perguntar a ninguém o porquê de seu voto. Uma pessoa veio me informar qual fora seu voto e o de sua esposa, no último domingo, após o culto, porque quis e não porque eu perguntei.
Não pensem que tenho raiva ou mágoa das pessoas que desejam que eu vá embora dessa comunidade. É direito delas quererem isso. E peço aos que me amam que adotem a mesma postura.
Varias configurações poderiam ter sido colocadas em prática para que esse resultado fosse diferente. Eu poderia ter solicitado ao meu irmão, que já há alguns meses não freqüenta essa igreja, mas ainda é membro dela, que viesse votar; eu poderia ter solicitado à minha esposa que viesse votar; eu poderia ter solicitado a membros da igreja que amam a mim e a minha esposa para que viessem votar. Mas para mim, isso seria tão ilegítimo quanto aceitar ser reeleito contando votos brancos a meu favor.
O resultado final é que não fui reeleito e pronto. A partir de 1º de janeiro outro servo ou serva de Deus virá abençoar a vida dos irmãos. Temos plena consciência de que servimos a Deus e que Ele chamou a mim a minha esposa para esse ministério e o resultado da eleição não abala em nada nossa certeza. Mas, nosso tempo aqui está findando e da mesma forma que alguém virá abençoar essa igreja nós vamos abençoar outro povo.
Poderia escrever muito mais coisas, mas o objetivo dessa carta é apenas o de prestar um esclarecimento sobre os últimos acontecimentos. O que está expresso aqui é minha opinião particular e que me reservo o direito de dizê-la. Qualquer pessoa pode pensar de maneira diferente e, minha carta, não é um ataque a essas pessoas.
Da mesma forma que vocês, tenho direito de pensar e agir como quero. E ‘pensar diferente’ não precisa fazer com que sejamos inimigos.
É assim que eu penso. É assim que eu me comporto. Por isso essa carta não é para falar de ninguém além de mim. Tenho plena consciência de que “... o Filho do Homem há de vir na glória de seu Pai, com os seus anjos, e, então, retribuirá a cada um conforme as suas obras” (Mt 16,27). Cada um é responsável pelo que faz e não pelo que outras pessoas fazem. Eu sou responsável pelo que penso e faço e você é responsável pelo que pensa e faz.
Isso é o que tenho a dizer. Não falo mais sobre o assunto. Não ligo para pastor algum para falar bem ou mal da igreja. Não passo informação a nenhum pastor sobre os membros da igreja. Não participo do processo de escolha do no novo pastor.
Eu e a Alithéia, graças a Deus, formamos algumas lindas amizades nessa igreja. Elas permanecerão. Continuaremos a frequentar suas casas e vocês continuarão a fequentar a nossa.
Que o SENHOR vos abençoe e vos guarde; que o SENHOR faça resplandecer o seu rosto sobre vós e tenha misericórdia de vós; que o SENHOR sobre vós levante o rosto e lhes dê a paz.
Pastor Marcelo Cianelli
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