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Se conversarmos sobre nossos dogmas, paradigmas e outras "verdades", poderemos juntos aumentar nosso alcance de visão e passaremos a enxergar um pouco além da ponta de nossos narizes, ou não.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Obedecer, amar e perdoar!


                No nosso trato diário uns com os outros temos o triste desvio de caráter de exigir de nós e dos outros, tarefas que estão além dos alcances de serem realizadas. Digo que isso é um desvio de caráter porque muitas dessas vezes lançamos mão desse comportamento tendo plena consciência da impossibilidade da realização do mandamento.
            Isso não é algo novo. Ao lermos o Novo Testamento encontramos passagens nas quais podemos ver Jesus repreendendo os religiosos de sua época por tal procedimento, vejamos um exemplo no evangelho de Lucas “Mas ele respondeu: Ai de vós também, intérpretes da Lei! Porque sobrecarregais os homens com fardos superiores às suas forças, mas vós mesmos nem com um dedo os tocais.” (11,46).
            Quando algo é considerado importante costumamos dizer que é preciso ir além das próprias forças para realizar tal labuta. Parece lindo, mas é perigoso e prova o quanto somos néscios e que nos deliciamos com provérbios paupérrimos, comparáveis apenas com rasos clichês filosóficos elaborados nos balcões de botecos, criados à base de muita cerveja quente e toucinho peludo.
            Por outro lado, e também o que não é novidade alguma, Deus faz justamente o contrário. Deus exige de nós somente o que somos capazes de fazer, e o faz, porque já nos agraciou de antemão com condições físicas e emocionais de cumprir aquilo que nos mandaria fazer.
            Portanto, a partir da afirmação que fiz no parágrafo acima, quero destacar nessas linhas três – existem mais - mandamentos de Deus que somos capazes de realizar. O empenho pode ser pouco ou muito, ou seja, pode-nos ser fácil ou difícil cumprir a esses três mandamentos, mas impossível não é. Vamos a eles:
            Um alerta antes. Se você é do tipo de pessoa que aprecia a ignorância, pois costuma dar desculpas para seu labéu dizendo que os fez porque não sabia que não deveria fazer. Pare de ler esse texto agora, pois os mandamentos que vou citar são tão arroz com feijão que você corre sério perigo.
            1º) Obediência: Submissão à vontade de alguém (Dic. Aurélio), “A pessoa que aceita e obedece aos meus mandamentos prova que me ama. E a pessoa que me ama será amada pelo meu Pai, e eu também a amarei e lhe mostrarei quem sou.” (Jo. 14,21). Somos abençoados por Deus com esse primeiro talento, até porque o restante depende dele, que é a capacidade de obedecer.
            Deus nos manda obedecer a tudo e a todos? Não, é claro que não. Isso seria o mesmo que nos entregar nas mãos dos inimigos para sermos destruídos. Em primeiro lugar, Deus nos manda obedecer a Ele, depois também determina quais são as outras instâncias que devem ser obedecidas.
            Não podemos alegar que ignoramos como se obedece, pois desde pequenos somos treinados para isso. Aprendemos a obedecer aos nossos pais, aos professores, às autoridades, às leis. Se não obedecemos é outra questão, mas que sabemos obedecer, sabemos.
            Ainda que alguém seja adulto e diga que viveu até aqui numa vida sem lei e verdadeiramente nunca aprendeu a obedecer, não há problema, pois como a obediência é um mandamento, e Deus não nos manda fazer algo além de nós, é tempo dessa pessoa aprender.
            2º) Amar: querer muito bem a; sentir ternura; ter afeição ou dedicação a; prezar a; agir corretamente com; (Dic. Aurélio), “36  Mestre, qual é o grande mandamento na Lei? 37  Respondeu-lhe Jesus: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. 38  Este é o grande e primeiro mandamento. 39  O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” (Mt. 22,36-39). Somos abençoados pelo Senhor com capacidade de amar. Afirmo isso seguindo o raciocínio que venho desenvolvendo até aqui. Somos pessoas dotadas de todas as condições necessárias para amar.
            Humberto Maturana, biólogo chileno, afirma que o amor está em nosso DNA. Ele diz e prova biológicamente que nascemos para amar. Deus colocou o amor em nossos genes. Se nos recusarmos a amar, estaremos indo contra nossa própria essência, elaborada, planejada e colocada em funcionamento por ninguém menos do que o próprio Deus.
            Amar é o mesmo que gostar de tudo e de todos? Não. Existem pessoas que não possíveis de descer por nossa garganta, assim, como cada um do nós é visto da mesma maneira por uma ou muito mais pessoas. Obviamente que o amor permite-se vestir-se com muitas roupas diferentes. Por isso, é possível amar gostando e nutrindo pela pessoa amada todo o prazer que o gostar permite – entenda que aqui não estou falando de erotismo, num outro dia e texto pode até ser, como já fiz a poucos dias, nesse não. Como também, é possível amar o inimigo, simplesmente não o tratando como ele o trataria. Não o deixe morrer de sede, de fome, de frio, de injustiça, ainda que ele deixasse que tudo isso acontecesse com você.
            Ainda que alguém diga que cresceu em um ambiente de completo abandono e que nunca experimentou amar, nem ser amado, apesar disso ser profundamente triste, a amor não deixa de ser mandamento para essa pessoa, é tempo dela aprender a amar. O que posso dizer é que ainda que alguém, humanamente falando,  nunca tenha sido ou se sentido amado, Deus sempre lhe amou.
            3º) Perdoar: Desculpar, absolver, remitir (pena, culpa, dívida, etc.); conformar-se com; aceitar; remitir as faltas (Dic. Aurélio), “E, quando estiverdes orando, se tendes alguma coisa contra alguém, perdoai, para que vosso Pai celestial vos perdoe as vossas ofensas.” (Mc 11,25). Por mais incrível que possa nos parecer, Deus nos presenteou com capacidade para perdoar.
            Diferente do amor, com o qual o Senhor nos ama independente de qualquer coisa que façamos, falemos ou pensamos, perdoarmos é pré-requisito para recebermos dEle perdão também. E isso é cumprido como um pedido nosso e uma decisão de Deus, veja, 9  Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome; 10  venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu; 11  o pão nosso de cada dia dá-nos hoje; 12  e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores; 13  e não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém! 14  Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celeste vos perdoará; 15  se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas. (Mt. 6,9-15). Primeiro nós pedimos que seja assim na oração e depois Jesus confirma que é assim mesmo que será feito.
            Penso que perdoar é mais difícil do que amar, pois para amar não é preciso ter uma relação estreita com a pessoa. O perdão envolve relacionar com alguém que fez algo, consciente ou não, que lhe trouxe algum tipo de prejuízo, que lhe ofendeu. Perdoar é abrir mão de desejar ao outro que ele receba o mesmo mal que lhe causou. É considerar o outro como se ele não tivesse lhe causado nenhum prejuízo ou ofensa, é amá-lo.
            Ainda que alguém diga a vingança é um prato que prazerosamente se come frio. Ainda que alguém tenha sofrido todas as injustiças que a vida pode lhe oferecer, apesar disso também ser profundamente triste, o perdão não deixa de ser mandamento, é tempo de aprender a perdoar.
            São esses os três mandamentos de Deus que quero deixar para hoje.
            Sei que você talvez leia essas palavras e pense que sou um maluco alienado ou metido a ser o santo o momento. Sei que você pode até estar pensando que escrevi isso para os outros e que na minha vida não faço nada disso. Confesso a você que essas linhas entram na minha carne, como uma faca afiada, tão fundo quanto entram na sua. E digo que na metade do texto eu queria parar de escrevê-lo porque estava considerando que era algo muito pesado. Mas, Deus me fez continuar escrevendo. Sei na minha e na sua vida a dificuldade de obedecer a tudo isso que escrevi aqui, mas isso não faz com que o mandamento deixe de ser mandamento.
            O que sei é que o mesmo Deus que nos manda fazer é também quem pacientemente em Cristo nos ensina e ajudar a cumprir todas as coisas. Sei que o Deus que exige, também é o Deus que compreende. Sei que o Deus que é justo, também é amoroso.
            Por isso termino o texto com uma oração que talvez você também possa fazê-la:
            “Deus, em nome de Jesus, ajuda-me.”

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