Quando ajudamos a realizar algo, são
muitos os motivos que nos levam a essa ação: amor, pena, imposição, obrigação,
segundas intenções, boa vontade, etc.
São tantos os motivos que poderíamos
escrever um texto somente para citá-los à exaustão. Por isso, citei apenas
alguns e dentre esses quero destacar a boa vontade, pois foi justamente essa
que me levou a escrever esse texto.
Faço-lhe uma pergunta: O que é para
você boa vontade? No site da SciELO Brasil encontrei a seguinte
definição que me deixou satisfeito:
A
boa vontade implica numa disponibilidade, que se manifesta com a percepção de
uma necessidade em outra pessoa, para espontaneamente ajudá-la, visando
efetivamente seu benefício. Inclui um sentimento positivo em relação a si
mesmo, relacionado com a ação praticada, mas também um sentimento positivo em
relação ao outro que recebe a ação.
Segundo a definição acima dentre as
características da boa vontade temos disponibilidade, percepção,
espontaneidade, sentimentos positivos. Assim, como a própria expressão já
afirma, boa vontade é algo do bem. Segundo Kant, "De
todas as coisas que podemos conceber neste mundo ou mesmo, de maneira geral,
fora dele, não há nenhuma que possa ser considerada como boa sem restrição,
salvo uma 'boa vontade'" (KANT,
1991), ou seja, a boa vontade é a única coisa que pode ser considerada como boa
em si mesma.
Se levarmos em consideração, tudo
isso que foi dito até aqui, poderíamos ter o entendimento de que aqueles que
agem por boa vontade nunca deveriam ser reprimidos, pois se há algo de bom para
se fazer nessa vida, principalmente com relação ao outro, é agir por boa
vontade.
Porém, refletindo um pouco mais sobre
essas duas afirmações fica claro que, - o que, aliás, para minha compreensão de
ação solidária é um balsamo - até mesmo a boa vontade precisa de parâmetros
para ser eficaz e provocar algo de bom naquele que é objeto dela.
A boa vontade sem parâmetros pode
nos levar a errar. E o que é mais avassalador, é que pode nos levar a errar
justamente quando estávamos cheios de desejo de acertar.
Mas, além dos parâmetros destacados
na primeira citação, que de tão claros que são, dispensam mais comentários,
quero destacar algo que encontrei no evangelho de Lucas e que em minha opinião
deve estar em segundo lugar (o primeiro destacarei no final do texto) quando
falamos de boa vontade, que é seguinte orientação: “Como vocês querem que os outros lhes façam, façam também vocês a eles” (Lc. 6,31).
Acredito que
esse ensinamento bíblico deve nortear todas as ações de nossa vida. Logo e
lógico, a boa vontade não fica de fora. Sempre temos que levar em conta que ao
agirmos devemos nos perguntar se a forma que escolhemos para agir é a mesma, ou
semelhante, a que gostaríamos que alguém usasse quando fosse nos ajudar.
Afinal de
contas, você gostaria que alguém que agindo com boa vontade e tendo você como
objeto dessa ação, o fizesse de forma grosseira, arrogante, como se fosse dono
da verdade, como se fosse um juiz, que lhe apontasse o dedo, que interrompesse
sua fala, que ignorasse seus sentimentos, que ignorasse suas necessidades
naquele momento, etc.? Se sua resposta for não, o que Lucas está dizendo é que
então você nunca deve fazer isso com o outro, pois até mesmo a boa vontade, que
é boa em si mesma, possui parâmetros de atuação, pois, “Como vocês querem
que os outros lhes façam, façam também vocês a eles”.
Alguém pode
dizer: “Há! Mas alguém com boa vontade, não faria isso que foi citado!”.
Respondo: pense em algumas de suas ações de boa vontade e em algumas vezes em
que você foi objeto desse tipo de ação. Pergunto: continua pensando da mesma
forma? Será que você nunca disse ou ouviu alguém dizer: “Olha, vou dizer isso
porque quero o melhor para você, isso que você esta fazendo é coisa de gente
que não presta”. Pelo principio de Lucas se você não gostaria de ser chamado de
gente de não presta, não deveria falar isso para o outro, mesmo sendo de boa
vontade.
Para
finalizar, quero deixar aqui o parâmetro de regência da boa vontade que em
minha opinião deve estar em primeiro lugar. Antecipo que nada vou comentar
sobre ele, pois, se os que citei acima já falam por si, esse fala por si e por
todos: “1
Eu poderia falar todas as línguas que são faladas na terra e até no céu,
mas, se não tivesse amor, as minhas palavras seriam como o som de um gongo ou
como o barulho de um sino. 2 Poderia ter
o dom de anunciar mensagens de Deus, ter todo o conhecimento, entender todos os
segredos e ter tanta fé, que até poderia tirar as montanhas do seu lugar, mas,
se não tivesse amor, eu não seria nada. 3
Poderia dar tudo o que tenho e até mesmo entregar o meu corpo para ser
queimado, mas, se eu não tivesse amor, isso não me adiantaria nada.” (1Co
13,1-3).
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